domingo, 29 de maio de 2011

Desenvolvimento moral – A teoria de Piaget

O modo como se considera certo ou errado um determinado acto é entendido de uma perspectiva diferente em sujeitos de idades diferentes – uma criança de 5 anos tem um raciocínio moral diferente de um adolescente de 15 anos de idade. Piaget desenvolveu um modelo teórico explicativo do desenvolvimento moral baseado no respeito e compreensão de regras. A partir de experiências e observações propôs que a forma como as crianças lidam com as regras, a justiça e a moral variam no decorrer do processo de desenvolvimento, distinguindo as fases heteronímia moral e autonomia moral.
As crianças que se encontram na fase de heteronímia moral (dos 4/5 anos aos 8/9 anos) submetem-se a regras que são ditadas do exterior e que na sua perspectiva não podem ser alteradas. Percebem as regras como absolutas, imutáveis e intangíveis. A moralidade é determinada pelas consequências materiais, independentemente das intenções do sujeito. Entendem que o não respeito pelas regras deve levar a sanções e assumem uma conexão absoluta entre a punição e o erro (consideram que sempre que alguém é punido é porque deve ter feito algo de errado).
A fase da autonomia moral é atingida a partir dos 8/9 anos de idade. As crianças têm em consideração o propósito e as consequências das regras e, nesta fase, a obrigação baseia-se na reciprocidade. O sujeito constrói os seus valores morais e percebe as regras como estabelecidas e mantidas pelo consenso social. Nesta etapa, as considerações sobre a justiça de um acto dependem agora das intenções.
De seguida, apresento duas histórias e as diferentes interpretações morais que as crianças fazem em cada uma das fases:
a)      “Era uma vez um menino que se chamava João e que estava no seu quarto. A dada altura chamam-no para o jantar. Ele entra na sala, mas atrás da porta estava uma cadeira e nessa cadeira estava um tabuleiro com quinze chávenas. O João não podia saber que estava lá a cadeira e o tabuleiro com as chávenas. Ele entra na sala, a porta bate na cadeira e atira o tabuleiro ao chão e as chávenas partem-se todas.”
b)      “ Era uma vez um rapaz que se chamava Henrique. Um dia em que a sua mãe não estava em casa ele quis comer um doce que estava num armário alto. Ele subiu a uma cadeira e estendeu o braço. Mas o doce estava muito alto e ele não conseguiu chegar lá. Ao tentar chegar ao doce, ele empurrou uma chávena. A chávena caiu e partiu-se.”
Do ponto de vista de uma criança pequena o João agiu “moralmente pior” que o Henrique. Piaget concluiu que uma criança (idade entre 4/5 a 8/9 anos) não consegue fazer uma análise ampla. Valoriza apenas as consequências dos actos e desvaloriza as intenções de quem agiu. As crianças com mais de 8/9 anos já constroem as suas próprias regras morais, percebem as regras estabelecidas pela sociedade e como são mutáveis. Assim, um adolescente “não condenaria” do ponto de vista moral o João, pois avalia as acções como boas ou más tendo em conta as intenções do sujeito. Uma criança pequena faz juízos centrados no resultado em si mesmo, enquanto um adolescente já tem em conta a intenção subjacente.
Piaget percebeu que a criança pequena tem dificuldades para levar em conta as circunstâncias atenuantes enquanto o adolescente já faz julgamentos com base na equidade, sendo capaz de pensar em termos de possibilidades e de um número maior de tentativas.

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