domingo, 29 de maio de 2011

Erik Erikson- Estádios de Desenvolvimento - Estudo de caso

Por opção própria, entrevistei a minha avó materna, uma idosa (76 anos), que encara a vida de uma forma bastante positiva, levando um estilo de vida saudável, desenvolvendo várias relações de amizade e realizando competências de lazer, favorecendo assim, o seu auto-conceito positivo. Todos estes factores traduzem-se num envelhecimento óptimo, que é encorajado pela família, amigos e vizinhos.

A minha avó nasceu no ano 1935. Apesar de ter perdido o pai muito cedo (4 anos) e estar dentro da conjuntura da II Guerra Mundial (influência normativa histórica), vivenciou uma infância feliz e equilibrada, devido a um suporte familiar coeso, constituído pela mãe, avó, irmãos e tios.

Durante a puberdade, chega à compreensão da sua singularidade como pessoa, adquirindo a noção de que é um ser único, com identidade própria, mas inserida no seu meio social, onde continuava a ter vários papeis a desempenhar: ser jovem, amiga, filha, estudante e “ líder de bairro”, etc. tudo numa única imagem. Assim, começa a ter consciência que quer uma vida diferente, demonstrando confiança, autonomia, iniciativa e diligência (adquirida nos estádios anteriores) que se repercute nesta etapa da sua vida. É a partir desta única imagem formada de si própria e em função dela, que escolhe ir para Moçambique, começar um novo estilo de vida e uma carreira profissional.

Esta fase da vida da minha avó, constitui a transição para a vida adulta, visto que acabou a escolaridade, começa a trabalhar, adquire independência financeira e vive separada da família. Nesta altura, conhece o meu avô, que depois de um ano de namoro decidem casar-se. Ela está agora preparada para estabelecer laços de bem-querer, amizade, partilha e confiança. Como estudei, a intimidade requer que o sentimento de identidade pessoal facilite o relacionamento com outrem, numa base de compromissos, alteração de hábitos e mesmo a aceitação de sacrifícios. Com o meu avô, ela partilha a vida e tem duas filhas. Consegue assim, as virtudes desenvolvidas nesta fase: o amor e afiliação.

Com a descolonização, aos seus 42 anos, retornou a Portugal com o marido e filhas já adolescentes. Nesta fase, apesar de ter sido um período conturbado pela mudança de país, de emprego, de ambiente e amigos, continuou a ter uma vida conjugal e profissional estável (era funcionária pública). Esta estabilidade, funcionou na minha avó, como uma “mola” para desenvolver actividades que considerava produtivas e úteis, tais como actividades sociais com os mais pobres, preocupação com os mais jovens, com o bem – estar dos que a rodeiam e o desejo de contribuir para um mundo melhor, desenvolveram potencialidades do “eu” e incrementaram a sua afirmação pessoal.

As virtudes adquiridas neste estádio, são essencialmente a produção e ajuda aos outros (generatividade) ao contrário da estagnação onde o adulto só se preocupa consigo próprio, em que nada se assemelha à atitude da minha avó!

Entre os seus 50/55 anos de idade a minha mãe e a minha tia casam, deixando assim

a casa da minha avó. Conta ela, que nunca se sentiu tão só e deprimida pois achava que já não fazia parte da vida das filhas. Com o tempo, com a ajuda do meu avô, das próprias filhas e de todas as actividades em que participava, conseguiu alterar esta concepção e até começar a achar graça à nova liberdade, ao tempo disponível e mais tarde até o facto de ser avó.

Neste momento, a minha avó tem setenta e seis anos, é reformada da função pública e continua a ter diversas actividades. Pertence a várias associações, faz voluntariado no hospital de Ovar e através destas actividades compensatórias aumenta o seu sentimento de altruísmo e de competência. Faz muitos passeios promovidos para a idade sénior estabelecendo uma associação explícita com o seu grupo de idade. É uma avó jovem, cheia de vitalidade, satisfeita porque considera que a sua vida teve mérito e que continua com uma vida preenchida. Surge aqui o sentimento de integridade própria, pois é uma pessoa que ao longo da vida reuniu imensas experiências que levam nesta idade a ter como principal virtude, a sabedoria. Claro que sabemos que já existe uma pequena diminuição da força física e da saúde, própria desta idade, mas ela procura alternativas e maximiza as suas competências compatíveis com os recursos físicos que tem disponíveis (amadurece a ideia de ingressar na universidade sénior para o ano que vem).

A fase mais complicada da sua vida foi a morte do meu avô, pois o estado de sofrimento agudo e a tentativa de se adaptar a perda, levou a algumas alterações de saúde, e durante um ano, ano e meio notamos uma tristeza a que não estávamos habituados. Depois (num segundo estádio) sentimos que se adaptava gradualmente à nova vida sem o meu avô. Felizmente, como reformada da função pública, tem uma vida financeira adequada, tem carro que ainda conduz o que a torna independente física e financeiramente, apesar de continuar sempre muito ligada às filhas e aos respectivos netos com quem partilha as fases piores e melhores do seu novo estádio. A minha avó é emocionalmente dependente da família, assim como esta é dependente dela, constituindo uma relação de amor e respeito recíproco. Deste modo, assume os quatro papeis simbólicos tão preponderantes no seio da nossa família: estabilizador, guarda nacional da família, arbitro e historiador familiar.

Como guarda nacional da família tem sempre a preocupação de proteger e ajudar tanto os mais velhos como os mais novos, tanto financeiramente como através de conselhos sábios. Estes conselhos foram cruciais no desenvolvimento da minha adolescência, visto que sempre foi a minha principal confidente

Assim, mantém um estilo de vida saudável, através de bons hábitos de nutrição; exercício físico e envolvimento em actividades interessantes que desafiem em mente (realização de competências de lazer, praticas de solidariedade, universidade para seniores, …) que não requerem o uso substancial da força ou endurance física.

Concluindo, podemos verificar que a minha avó enfrentou de uma forma positiva as crises psicossociais postuladas por Erik Erikson, desenvolvendo virtudes importantes para o desenvolvimento humano, que mais tarde (actualmente) contribuem para um envelhecimento óptimo. Este testemunho ajudou-me a contrariar algumas crenças ou mitos que ainda persistem na nossa sociedade, de que as pessoas idosas são pobres, dependentes, tristes e sós e que não têm a capacidade de se divertirem. Pelo contrário, são pessoas maduras, que possuem uma inteligência altamente cristalizada e que têm muito para nos ensinar!

O Início da Vida Adulta - Os Jovens Adultos

Passados os conturbados tempos da adolescência, surge na vida dos jovens um novo problema e um novo desafio, a entrada na vida adulta. Mas será que todos os jovens entram na vida adulta pela mesma altura? Ou será que cada um tem o seu tempo particular de amadurecer e de ganhar responsabilidade? E afinal, qual é a idade em que o Jovem ganha esta maturidade e entra nesta nova fase da sua vida?

Segundo o nosso sistema jurídico, adulto é aquele que tem 18 anos ou mais. É esta a cortina que distingue os adultos, daqueles que não são. No entanto, consultando o Dicionário de Língua Portuguesa podemos ficar com uma ideia diferente. Para o dicionário adulto é aquele que: “atingiu o completo desenvolvimento e chegou à idade vigorosa; Que atingiu a maturidade; que atingiu plena maturidade, expressa em termos de adequada integração social e adequado controle das funções intelectuais e emocionais.”

Notamos que ao contrário da lei, o dicionário propõe-nos outro tipo de distinção entre os que são adultos daqueles que não o são. Ao invés de uma distinção quantitativa, isto é, em termos de idade, propõe uma distinção qualitativa, falando-nos de maturidade. Mas o que será a maturidade?

Os empíricos provavelmente com facilidade poderiam dar exemplos do que é a maturidade. Associam-na, geralmente, à responsabilidade, à independência e autonomia, a ter um emprego próprio, ser financeiramente independente, ter sabedoria, fiabilidade, integridade e compaixão.

Consultando novamente o Dicionário da Língua Portuguesa define maturidade como o estado “das pessoas ou das coisas que atingiram completo desenvolvimento. Período de vida compreendido entre a juventude e a velhice”.

Então e podemos observar significativas diferenças entra o os jovens que entraram na idade adulta e aqueles que ainda não entraram? De facto, existem diferenças substanciais. Por norma, chegando a um certo estado de maturidade/idade os jovens adultos começam a pensar e a procurar coisas diferentes. Erikson, que estudou o desenvolvimento da personalidade explica que os jovens, chegando a um certo grau de maturação e de desenvolvimento, passam por uma crise de intimidade, que marca a sua transição para a vida adulta. Intimidade significa capacidade de intimidade sexual, mas significa também a capacidade para desenvolver uma autêntica e mútua intimidade psicossocial com outro indivíduo, seja na amizade, em encontros eróticos ou em inspiração conjunta. A intimidade é portanto a capacidade do jovem entregar-se e confiar-se a outra pessoa, e a partir, poder partilhar a sua vida a dois. No entanto, em certos casos, quando o jovem não tenha desenvolvido a sua identidade, o seu EU, enquanto ser único e complexo, pode sentir diversas dificuldades em confiar-se a outra pessoa. Nestes casos, o grande perigo passa por um isolamento total, isto é, uma incapacidade de correr riscos para a própria intimidade, seja por medos das consequências dessa mesma intimidade e suas responsabilidades, seja por não ter confiança nele próprio.

Podemos assim concluir que a verdadeira intimidade só é possível se o jovem tiver também desenvolvido a sua identidade, que segundo Erikson, é o estádio anterior à intimidade.

É importante salientar que estas transformações não ocorrem todas numa certa idade ou ao mesmo tempo para todos os jovens. O jovem não tem um relógio biológico dentro de si que determina que numa determinada data vai ter a necessidade de procurar intimidade. Conjugando uma multiplicidade de factores, ao longo da vida os indivíduos vão passando por uma série de estádios de desenvolvimento. Se conseguirem vive-los de forma correcta e equilibrada, ganham a “maturidade” que lhes permite um desenvolvimento cognitivo e social capaz de dar resposta aos papéis que têm que cumprir na sociedade, e que desta forma, se auto-realizem e que consigam um dos ideais do Ser Humano, ser feliz.

Desenvolvimento moral – A teoria de Piaget

O modo como se considera certo ou errado um determinado acto é entendido de uma perspectiva diferente em sujeitos de idades diferentes – uma criança de 5 anos tem um raciocínio moral diferente de um adolescente de 15 anos de idade. Piaget desenvolveu um modelo teórico explicativo do desenvolvimento moral baseado no respeito e compreensão de regras. A partir de experiências e observações propôs que a forma como as crianças lidam com as regras, a justiça e a moral variam no decorrer do processo de desenvolvimento, distinguindo as fases heteronímia moral e autonomia moral.
As crianças que se encontram na fase de heteronímia moral (dos 4/5 anos aos 8/9 anos) submetem-se a regras que são ditadas do exterior e que na sua perspectiva não podem ser alteradas. Percebem as regras como absolutas, imutáveis e intangíveis. A moralidade é determinada pelas consequências materiais, independentemente das intenções do sujeito. Entendem que o não respeito pelas regras deve levar a sanções e assumem uma conexão absoluta entre a punição e o erro (consideram que sempre que alguém é punido é porque deve ter feito algo de errado).
A fase da autonomia moral é atingida a partir dos 8/9 anos de idade. As crianças têm em consideração o propósito e as consequências das regras e, nesta fase, a obrigação baseia-se na reciprocidade. O sujeito constrói os seus valores morais e percebe as regras como estabelecidas e mantidas pelo consenso social. Nesta etapa, as considerações sobre a justiça de um acto dependem agora das intenções.
De seguida, apresento duas histórias e as diferentes interpretações morais que as crianças fazem em cada uma das fases:
a)      “Era uma vez um menino que se chamava João e que estava no seu quarto. A dada altura chamam-no para o jantar. Ele entra na sala, mas atrás da porta estava uma cadeira e nessa cadeira estava um tabuleiro com quinze chávenas. O João não podia saber que estava lá a cadeira e o tabuleiro com as chávenas. Ele entra na sala, a porta bate na cadeira e atira o tabuleiro ao chão e as chávenas partem-se todas.”
b)      “ Era uma vez um rapaz que se chamava Henrique. Um dia em que a sua mãe não estava em casa ele quis comer um doce que estava num armário alto. Ele subiu a uma cadeira e estendeu o braço. Mas o doce estava muito alto e ele não conseguiu chegar lá. Ao tentar chegar ao doce, ele empurrou uma chávena. A chávena caiu e partiu-se.”
Do ponto de vista de uma criança pequena o João agiu “moralmente pior” que o Henrique. Piaget concluiu que uma criança (idade entre 4/5 a 8/9 anos) não consegue fazer uma análise ampla. Valoriza apenas as consequências dos actos e desvaloriza as intenções de quem agiu. As crianças com mais de 8/9 anos já constroem as suas próprias regras morais, percebem as regras estabelecidas pela sociedade e como são mutáveis. Assim, um adolescente “não condenaria” do ponto de vista moral o João, pois avalia as acções como boas ou más tendo em conta as intenções do sujeito. Uma criança pequena faz juízos centrados no resultado em si mesmo, enquanto um adolescente já tem em conta a intenção subjacente.
Piaget percebeu que a criança pequena tem dificuldades para levar em conta as circunstâncias atenuantes enquanto o adolescente já faz julgamentos com base na equidade, sendo capaz de pensar em termos de possibilidades e de um número maior de tentativas.

Desenvolvimento Cognitivo

Desenvolvimento cognitivo, uma das etapas do desenvolvimento humano, deve ser entendido como desenvolvimento da inteligência a qual Piaget descreve como a capacidade de adaptação ao meio através da resolução dos problemas que o mesmo coloca. Para isso, devemos ter em consideração os mecanismos que a tornam possível, a assimilação, a acomodação e a equilibração.

A assimilação é o processo adaptativo que consiste em associar novas informações nos esquemas existentes (estruturas mentais usadas pelos indivíduos na interacção com o meio). Por exemplo, a criança que a aprendeu a segurar num garfo demonstra assimilação as segurar numa colher.
Acomodação é o processo adaptativo que consiste em ajustar os esquemas às novas informações e experiências modificando-os. Um bom exemplo é a tentativa de aprender uma língua estrangeira.
A equilibração consiste em pretender estabelecer um equilíbrio entre assimilação e acomodação, permitindo a ocorrência de desenvolvimento. Relaciona-se por exemplo, com a tentativa de adivinhar um acontecimento futuro face a um esquema habitual que de acordo com determinadas circunstâncias não se poderá verificar.

Piaget dividiu o desenvolvimento cognitivo em quatro estádios (fases qualitativamente diferentes demarcadas pelo desenvolvimento intelectual), em que a inteligência evolui de uma concepção prática para uma mentalidade abstracta.

O primeiro estádio, sensório-motor, verifica-se desde o nascimento até sensivelmente, ao segundo ano de idade. Aqui, o grande desafio a vencer é a aquisição da noção de objecto permanente, lentamente construída a partir dos 8 meses. Segundo Piaget, fora de vista significa literalmente fora da existência, ou seja, quando algo desaparece do seu campo de visão é como se tivesse deixado de existir. A partir dos 18 meses já é perceptível a aquisição da capacidade de representação simbólica, a criança forma imagens mentais de objectos ou acções na ausência da sua presença (nascimento da linguagem, do pensamento).

O estádio pré-operatório, dos 2 aos 6/7 anos, caracteriza-se pela dificuldade em adquirir a noção de conservação, principalmente, da quantidade confundindo aparência e realidade. Assim, expondo o exemplo que assistimos nas aula, a criança não se apercebe de que uma alteração quanto à altura do copo foi compensada pela diminuição do seu diâmetro, evidenciando um comportamento marcado pelo irreversibilidade, um pensamento representativo. Contudo, quando a criança reconhece que certas propriedades das coisas permanecem constantes apesar da mudança de forma, a problemática da aquisição do conceito de conservação está ultrapassada (o seu pensamento descentra-se), tal como ilustra o exemplo da bola de plasticina transformada em forma de salsicha em que não se verifica qualquer mudança quantitativa.

O estádio das operações concretas, dos 6/7 aos 12 anos, exprime o desenvolvimento do raciocínio lógico indutivo (baseado na observação e experiência), a reversibilidade do pensamento (se A é maior que B então, B é menor que A). Apesar de as representações mentais darem lugar a operações mentais (esquemas mais complexos), ainda assim, predomina uma realidade concreta e física no pensamento lógico, liberta-se da aparência mas não consegue libertar-se do aspecto concreto.
O quarto e último estádio, o estádio das operações formais por volta dos 12 anos em diante, revela o pensamento lógivo-abstracto e hipotético-dedutivo. Deste modo, o pensamento apresenta uma evolução intelectual, não aborda apenas o concreto mas especialmente construções de ideias, o hipotético e o possível.

Sigmund Freud - Estádios Psicossexuais

Sigmund Freud

Os estádios do desenvolvimento psicossexual

Segundo Freud, o Homem é o resultado das suas experiencias na infância. Acreditava que, de uma forma geral, todas as pessoas percorriam um trajecto semelhante durante o seu desenvolvimento, sendo que o impulso sexual e a procura de prazer erótico eram a base do desenvolvimento afectivo. Para Freud, o prazer sexual resumia-se a todas as sensações agradáveis sentidas por uma região corporal, não passando necessariamente pelo contacto genital. Somente na fase final do desenvolvimento psicossexual se aplica a sexualidade genital com o desenvolvimento dos órgãos genitais devido as transformações fisiológicas da puberdade. Eram então perceptíveis 5 estádios diferentes, que ocorriam nesta sequência: oral, anal, fálico, latência e genital.

Estádio oral (do nascimento aos 12/18 meses)

Durante os primeiros meses de vida, a boca é o local por onde a criança obtém prazer, e parte da interacção da criança com o mundo externo processa-se através da boca e lábios. A satisfação sexual centra-se nessa área. Nesta fase, a criança desenvolve uma relação especial com a mãe, estabelecida essencialmente pelo seio que é fonte de alimento e de prazer. Com a dentição, a actividade oral diversifica-se, morder e mastigar enriquecem as opções de formas de exploração oral dos objectos. Nesta fase, o desmame é um conflito frequente. Devido ao prazer que retira da amamentação, a criança tende a exceder os impulsos erógenos, sendo conduzida a um estado de fixação, isto é, fica psicologicamente presa a esta forma de obtenção de prazer que se centra na boca.

Estádio anal (dos 12/18 meses aos 3 anos)

De uma forma geral, partir do primeiro ano de vida a principal fonte de prazer passa a ser o ânus, embora a boca permaneça uma zona erógena. Durante este período do desenvolvimento psicossexual, o prazer sexual deriva da estimulação do ânus ao reter e expelir as fezes. Neste estádio, a criança aprende a controlar os músculos responsáveis pelo processo de evacuação. Assim, a criança aprende a controlar os seus impulsos, sabendo que existem momentos e lugares apropriados para o efeito. Pela primeira vez constrangimentos externos limitam e adiam a satisfação dos impulsos internos. Nesta fase, a higiene poderá determinar um factor de adversidade ao prazer, e como tal, o treino e a exigência dos pais deve ser moderado, de modo a evitar reacções impróprias por parte da criança que originem uma maturação inapropriada do ego e superego, devido ao contrariar das pulsões do Id.

O estádio fálico (dos 3 aos 6 anos)

Durante o estádio fálico, os órgãos genitais tornam-se o centro da actividade erótica da criança através da auto-estimulação. É o período em que muitas crianças apercebem-se das diferenças anatómicas entre os sexos e de que a sexualidade faz parte das relações entre as pessoas. No estádio fálico, numa fase inicial, a sexualidade da criança é ainda de natureza auto-erótica. Dedica bastante tempo a examinar o seu aparelho genital, manifesta curiosidade extrema por questões sexuais ainda que não seja cognitivamente capaz de compreender as respostas. Nesta fase as crianças elaboram fantasias acerca do acto sexual e do processo de nascimento que são completamente desadequadas. Assim, podem pensar que uma mulher engravida porque comeu o seu bebé e que o nascimento consiste em expeli-lo pela boca. Os prazeres da masturbação e as fantasias da criança na sua actividade auto-erótica, constituem a base para uma importante mudança de direcção da libido, dos impulsos libidinais. É nesta altura, que segundo Freud, a criança desenvolve uma atracção sexual pelo progenitor do sexo oposto e uma agressividade para com o progenitor do mesmo sexo. No caso dos rapazes, designa-se por Complexo de Édipo. O rapaz sente uma necessidade de afastar o pai para obterem a total atenção por parte da mãe, figura na qual ele relega uma grande importância e que deseja proteger a todo o custo. No caso das raparigas, o objecto original do afecto é substituído por outro, o pai. Isto acontece porque a rapariga fica desapontada por não ter o mesmo órgão sexual que os rapazes, sentindo-se inferior, e responsabiliza a mãe por isso. Este sentimento é definido por Freud como “inveja do pénis”. O desprezo e o ressentimento marcam a relação com a mãe. Esta atracção é denominada por Complexo de Electra.

Estádio de latência (dos 6 aos 11 anos)

O estádio de latência é o período da vida marcado por um acontecimento significativo: a entrada na escola e a ampliação das redes sociais da criança. Recalcadas no inconsciente, as conturbadas experiências emocionais do estádio fálico parecem não a perturbar. Deste modo a criança liberta-se dos impulsos sexuais e conduz as suas relações para outros significados. A energia da libido é convertida em interesse intelectual e é orientada para as actividades escolares e de socialização. Há um reforço da identidade sexual da criança já que, normalmente, aproxima-se dos seus semelhantes, no que a sexualidade diz respeito.

Estádio genital (após a puberdade)

Na adolescência, através do desenvolvimento do aparelho genital e da produção de hormonas sexuais, reactivam-se os impulsos sexuais que no estádio de latência se encontravam adormecidos. Em estádios anteriores, o indivíduo obtinha satisfação através da estimulação de determinadas zonas do seu corpo ( Estádio Oral e Anal ). Embora no estádio fálico a sexualidade auto-erótica comece a ser superada, ela ainda não está orientada de uma forma realista e socialmente aprovada. Manifesta-se para ser reprimida. No estádio genital, alguns conflitos dos estádios anteriores podem ser revividos, em especial o complexo de Édipo. Como tal, neste momento e segundo Freud, para que o desenvolvimento psicossexual se dê de uma forma natural, os progenitores devem ser suprimidos enquanto objectos do impulso sexual de modo a que o adolescente ultrapasse de vez os complexos do Estádio Fálico.

Política "Head start" - Programa “Carolina Abecedarian Project”

Em 1972, em Carolina do Norte, EUA, foi criado o programa “Carolina Abecedarian Project”, pelo Instituto de Desenvolvimento das Crianças Frank Poter Graham. O objectivo deste programa era estudar os potenciais benefícios de uma melhor educação na infância. Este projecto de intervenção foi direccionado às crianças mais desfavorecidas, dado que era observável que as mesmas tinham pior aproveitamento escolar do que as crianças com melhores cuidados.
Na experiência participaram 111 crianças, na sua maioria afro-americanas, nascidas entre 1972 e 1977. Foram dados cuidados especiais a 57 crianças, enquanto as restantes 54 fizeram parte do grupo de controlo. Durante um período de 5 anos, foram proporcionadas actividades educativas a crianças a partir de 4 meses de idade, que consistiam em jogos lúdicos e exercícios linguísticos. Tinham a duração de 6 a 8 horas por dia, 5 dias por semana. As 54 crianças do grupo de controlo foram precavidas de suplementos nutritivos, serviços sociais e cuidados de saúde, para garantir que não houvesse interferência nos resultados.
Este projecto diferenciava-se dos outros por uma intervenção antecipada na educação das crianças. Foi monitorizado o desenvolvimento dos participantes na experiência em diversas idades, até aos 21 anos. O estudo permitiu concluir que cuidados de qualidade e uma boa educação desde a primeira infância contribuíam para melhores resultados nos testes cognitivos de linguagem, de leitura, de matemática, para uma maior probabilidade de entrar na faculdade e para uma percentagem menor de gravidez na adolescência.

Experiência Precoce

A experiência precoce ocupa uma área de grande importãncia no crescimento e desenvolvimento do Ser Humano definindo-se como um estímulo dado a uma criança que naquele momento, ainda não possui o nível de maturidade necessário para a ocorrência da respectiva aprendizagem.
A aprendizagem está assim, dependente, da aquisição de competências ser atingida no seu período favorável, no encontro do tempo crítico com o meio que se traduz no “momento certo”. Se esta interacção ocorrer demasiado cedo ou demasiado tarde, torna-se impossível ocorrer o processo de aprendizagem podendo ocorrer repercussões no futuro da vida da criança.

Realçando alguns dos teóricos que mais se debruçaram sobre esta matéria, Bayley verificou no estudo do crescimento e desenvolvimento humano que a variabilidade do QI é maior durante os primeiros anos de vida (surge um enorme surto de estímulos que a criança consegue captar) e que o crescimento intelectual está intimamente relacionado com o nível de interacção que um sujeito estabelece com o meio, podendo aumentar até aos 50 anos. Benjamin Bloom com base na curva do crescimento intelectual concluiu que, uma vez que as capacidades intelectuais tendem a aumentar mais lentamente ao longo do tempo, as experiências precoces assumem-se com extrema importância, pelo facto de que aos 6 anos de idade já nos encontramos com 2/3 da nossa capacidade intelectual formada, e de que a nossa educação formal surge mais cedo em consequência do abrandamento do desenvolvimento intelectual.

Hunt e e Dennis defendem que as crianças menos expostas a estímulos têm mais probabilidade de ver o seu desenvolvimento motor normal afectado, ou seja, a variedade de estímulos é preponderante no desenvolvimento intelectual das crianças, sendo que os mesmos devem ser adequados ao grau de desenvolvimento em que a criança se encontra (estímulos de carácter excecivo, muito comum ou diversificado não promovem o desenvolvimento intelectual). Com base em estudos em crianças, Hunt afirma que crianças com privação precoce de estímulos têm mais problemas a nível motor do que as crianças que são privadas de actividade motora precoce.

Neste sentido, existiram alguns programas de intervenção precoce para grupos de crianças mais desfavorecidas, com objectivo de melhorar o desenvolvimento cognitivo e consequentemente, atingir maior sucesso escolar. Entre os quais, salientamos o programa americano Head Star que se assumiu como eficaz a longo prazo, e o Programa Carolina Abcedarian Project que abordamos nas nossas aulas.

“A experiência de Harlow” – A Importância da Infância


O desenvolvimento acontece porque o Homem é um sistema aberto, ou seja, está em permanente interacção dinâmica com o meio, o meio natural, a família, os amigos, a escola, a comunidade, que o ajudam a desenvolver-se.

Nestes últimos anos, muitos autores têm debatido os efeitos que experiências adversas produzem no desenvolvimento das crianças. Actualmente, podemos afirmar que a infância é a base fundamental do processo de formação e de desenvolvimento da criança e do Homem ao longo da vida.

Desde do nascimento, o indivíduo necessita de afecto e carinho, de uma base afectiva estável, tanto como de alimento e higiene. Diversos autores consideram que uma boa relação afectiva pode proporcionar à criança um crescimento mais saudável, quer a nível psicológico (auto-estima mais elevada, um bom auto-conceito, boa interacção com o grupo de pares, etc.) quer a nível físico (menor risco de desenvolver patologias, principalmente psicossomáticas).

O Estudo do comportamento animal constitui-se como uma importante ferramenta para a investigação em Psicologia e, por conseguinte, para a compreensão do comportamento humano.

Harry Harlow observou o desenvolvimento de macacos, criados em laboratório.

No laboratório, Harlow fazia manipulações experimentais nas quais forçava uma ruptura das mães com as suas crias (isolamento total ou parcial durante os primeiros tempos de vida). Assim, o investigador pretendia concluir qual a importância do afecto e do carinho e dos vínculos criados entre mãe-bebé para um desenvolvimento saudável. Ao mesmo tempo, com esta experiencia Harlow conseguiu provar à comunidade cientifica a importância de experiencias com primatas, pois pode retirar conclusões inatas a vida e não apenas à espécie em estudo, como alguns defendiam.

Desta forma, Harlow impulsionou a psicologia do desenvolvimento através das suas experiencias com mães substitutas.

Harlow separou 60 macacos bebés da mãe, 6 a 12 horas após o nascimento, e começou a criá-los num isolamento total. Desde o primeiro momento, reparou que os macacos bebes apegavam-se fortemente às mantas e aos cobertores. Aqueles que não as tinham, não sobreviviam mais do que uma semana.

Assim Harlow continuou a sua experiência separando oito macacos e criou-os em jaulas, totalmente isolados apenas com as já referidas mães substitutas: uma era um pedaço de madeira e esponja coberta de algodão. A figura tinha também uma cara, com grandes olhos e, no interior, tinha uma pequena lâmpada que gerava calor. A outra era apenas um pedaço de arame. No entanto, o pedaço de arame tinha um sistema que dava alimentação aos macacos.

Observou-se assim que os macacos alimentavam-se da mãe de arame, mas que criavam vínculos afectivos com a mãe de pano (que se mantinham mesmo que fossem separados por alguns períodos de tempo), passando entre 16 a 18 horas com ela.

Esta pesquisa teve um acompanhamento longitudinal aos macacos bebés e pode observar as implicações que uma infância isolada e privada de aspectos fundamentais teve no seu desenvolvimento e formação integral.

Verificou-se que os primatas, vivendo os primeiros tempos de vida em situações de isolamento revelaram comportamentos perturbadores, como medo dos demais da mesma espécie, isolamento, violência com as próprias crias, ou mesmo uma total apatia e uma ausência total de comportamentos sociais.

Em síntese, podemos concluir que a experiência de Harlow permitiu comprovar a necessidade universal de todas as espécies de afecto, carinho e de uma base afectiva estável entre a cria e a figura materna, um vínculo que ultrapassa em muito a satisfação das necessidades de alimentação, como se pode perceber pela ligação que estes macacos bebés tinham com a sua “mãe de pano”.