terça-feira, 12 de abril de 2011

Hereditariedade vs Meio

Hereditariedade vs Meio

O aparecimento de crianças que vivem os primeiros tempos das suas vidas privadas do contacto com outros seres humanos tem vindo a acontecer de tempos a tempos. Assim, ao longo do tempo, têm vindo a ser levantas determinadas questões, sendo que algumas continuam sem resposta e/ou a gerar controvérsia.

Mas afinal qual o papel que o que nos rodeia tem na nossa formação? Terá um papel determinante? Fundamental? Ou é um mero acessório, já que toda a nossa carga genética determina aquilo em que nos vamos tornar.

As histórias de crianças que foram adoptadas e cresceram entre animais vieram dar possíveis respostas a estas questões. Em primeiro lugar, os observadores notaram uma ausência quase completa de traços especificamente humanos como a linguagem, o caminhar bípede e a afectividade. No entanto, por outro lado, mostraram a incrível capacidade que o Ser Humano tem para se adaptar ao ambiente que o rodeia. Estas crianças cresceram entre indivíduos de outras espécies, em ambientes, muitas vezes, hostis, e tiveram a capacidade para assimilar comportamentos, posturas e expressões que lhes permitia sobreviver e integrar-se no meio. Um exemplo destas adaptações são as crianças que cresceram em ambientes frios, demonstravam uma tal adaptação, que mostravam uma total tolerância ao frio da neve, mesmo quando despidos.

Apesar de demonstrarem comportamentos radicalmente diferentes dos seus semelhantes, ninguém podia afirmar que aqueles indivíduos não eram Humanos. Este facto veio a ser confirmado com o treinamento que estas crianças sofreram ao iniciarem o seu processo de socialização. Mostraram capacidade para aprender comportamentos especificamente humanos como palavras, vestir-se ou usar a casa de banho.

O Ser Humano nasce com uma carga genética, que herda dos seus progenitores. Designado por genótipo, influencia a singularidade morfológica de cada indivíduo. No entanto, as características do Homem não dependem apenas do genótipo que recebem hereditariamente no momento da concepção. A este factor junta-se o meio ambiente que nos rodeia, que vai ter um papel fundamental no desenvolvimento da Pessoa.

Os defensores da socialização como factor fundamental da formação do indivíduo referem que o Ser Humano quando nasce, nasce Homem, mas precisa do meio para se tornar Pessoa. Isto é, o indivíduo nasce com um conjunto de potencialidades genéticas, mas que têm que ser potencializadas e desenvolvidas durante o primeiro período de vida para poderem adquirir comportamentos e posturas aceites pela sociedade em que se inserem. Estes comportamentos vão surgir, muitas vezes, por processos de imitação e incentivo, que permitem ao bebé compreender aquilo que a sociedade espera dele e o que deve aprender para cumprir esse papel.

Podemos assim concluir que a hereditariedade e o meio ambiente não são realidades independentes uma da outra. Pelo contrário, são dois pólos de uma realidade, que interagem e complementam-se auxiliando o indivíduo a atingir todas as suas potencialidades e determinando aquilo em que ele se tornará.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Ciência vs Senso Comum

Conhecimento vulgar

O senso comum é um saber que se adquire na experiência do dia-a-dia, desde o dia em que nascemos e durante toda a vida no convívio com os outros. É por isso um saber simples, superficial, informal e espontâneo, revelando um escasso percurso de aprendizagem muitas vezes instantâneo.

O senso comum é um saber variável nos determinados grupos sociais e, apesar das suas limitações, torna-se fundamental na orientação da vida das pessoas. Contudo, o senso comum não é suficiente para clarificar o mundo e a vida, ou seja, não permite que enquanto humanos consigamos perceber e reflectir sobre a diferença entre a aparência e a realidade, uma vez que se baseia fundamentalmente, nos sentidos.

Conhecimento científico

A ciência pode ser entendida como um método capaz de atingir ou provar o conhecimento de que os nossos sentidos nos mostram, através da razão, experimentação e investigação dos factos e acontecimentos objectiváveis. É por isso formal e tem como objectivo gerar conhecimento e saber.

Deste modo, podemos encontrar um confronto de características entre os dois tipos de conhecimento:

Ciência vs Senso Comum


Conhecimentos científicos obtidos a partir de práticas cognitivas rigorosas, de forma metódica e sistemática

Conhecimento a partir de observações e experiências quotidianas recolhidas ao longo da vida e dos antepassados

Linguagem formal, precisa, rigorosa com utilização de termos científicos e/ou matemáticos

Linguagem vulgar e corrente

Procura o porquê dos conhecimentos/fenómenos

Limita-se a constatar o que existe, sem se preocupar com a sua explicação

Permite prever e compreender com rigor a ocorrência dos fenómenos

Tem valor prático, ajuda a resolver as situações o quotidiano

Valor de conhecimento elevado (tudo é capaz de ser mostrado racionalmente)

Conhecimento superficial (baseado nos sentidos)

Conhecimento objectivo, demonstrativo e universalmente válido

Conhecimento subjectivo, não é método, não é sistemático, nem universalmente válido

Para finalizar, os dois tipos de conhecimento estão presentes ao longo da vida do ser humano, confluindo na importância e influência que cada um deles exerce na construção do conhecimento e desenvolvimento cognitivo e intelectual desde o nosso nascimento.

Assim, na minha opinião podem surgir dois processos de construção do conhecimento. O primeiro verifica-se quando o senso comum se depara com um obstáculo epistemológico (teoria do conhecimento e da sua validade) que, por sua vez provoca a respectiva ruptura, levando à rectificação e progresso científico do conhecimento. O outro processo está relacionado com a vertente da continuidade, com a avaliação da ciência face a um conhecimento do senso comum, verificando-o e estabelecendo-o definitivamente como válido.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Reflexão sobre Interacção e Influência Social

Obediência e Autoridade


Começo esta publicação perguntando:

“ Seriam capazes de torturar uma pessoa a pedido de outrem? “

Experiências realizadas por Stanley Milgram, provam que um número assustador de pessoas testadas seria efectivamente capaz de torturar outros indivíduos, aceitando irreflectidamente as ordens de uma figura de autoridade.

Stanley Milgram produziu um ensaio que tinha como objectivo o estudo das reacções individuais face a indicações concretas de outros. A obediência era medida através das acções manifestas e implicava comportamentos fonte de sofrimento para outros.

Resumindo, a experiência baseava-se em encontrar um voluntário que estaria encarregue de uma máquina de infligir choques. Numa outra sala, estaria uma suposta cobaia humana ligada a máquina. O voluntário conseguia ver a cobaia, mas a cobaia não o conseguia ver. À cobaia era dada alguma informação para aprender. Um experimentador (figura de autoridade) encontrava-se na mesma sala do voluntário e fazia diversas perguntas as quais a cobaia tinha de responder acertadamente (acerca da informação anteriormente leccionada). Por cada resposta errada, o voluntário teria que electrocutar a cobaia (começava por 15 volts e ia aumentando 15 por cada resposta errada, até um total de 450 volts; 15 volts representavam um choque ligeiro e 450 volts um choque severo). A máquina estava obviamente desligada, e como tal, cada vez que o voluntário carregava no botão para electrocutar a cobaia, esta simulava a dor.

Esta experiência foi realizada com vários voluntários, e os resultados não enganavam. Apesar de assistirem ao sofrimento da pessoa que electrocutavam, a maior parte dos voluntários continuou o teste, infligindo choques cada vez mais intensos. Conheciam inclusive a consequência de um choque de 450 volts (morte), e ainda assim, 65% das pessoas testadas foram capazes de infligir o choque pretensamente fatal.

A experiência tinha no entanto algumas variações. Em alguns casos o voluntário não conseguia ver a cobaia, apenas conseguia ouvi-la. (Aumentava a percentagem de obediência) Noutros, o experimentador dava a ordem para electrocutar, por telefone, estando portanto afastado do voluntário. (Diminuía a percentagem obediência) Existia ainda um caso em que duas pessoas estariam encarregues da máquina (um voluntário, e um experimentador passando por voluntário). (Dependia da posição tomada pelo falso voluntário; se obedecia, aumentava a percentagem de obediência; se recusava, diminuía a percentagem de obediência)

O que se conclui ?

Os resultados falam por si. Pessoas supostamente íntegras certamente diriam que jamais seriam capazes de torturar outra pessoa, ainda que em nome da ciência, mas o que se verifica é que a grande maioria obedece a uma voz de autoridade ao invés de respeitar as suas próprias ideias. Segundo estudos, a figura de autoridade influenciava a tomada de decisão, pois os voluntários sentiam-se desresponsabilizados pelas suas acções. É compreensível que o ser humano possa ser influenciado, mas é medonho quando percebemos os problemas que daí advêm e a proporção que podem tomar.

Esta experiência faz-me questionar as capacidades do ser humano. Sim, é um ser racional. (o único, tanto quanto se sabe) Sim, é um ser sociável. No entanto, e apesar destas competências, é capaz de cometer tamanha atrocidade pelo simples facto de não se sentir responsável pelas decisões tomadas. Seria capaz de perceber que uma pessoa estivesse apta a obedecer se dessa decisão dependesse para viver, mas não é disso que se trata. Trata-se única e exclusivamente de ignorar as capacidades que fazem do Homem um ser superior aos demais e tornar-se numa marioneta.

Uma reflexão acerca do behavorismo (uma corrente de psicologia do século XX)


O behavorismo (comportamentalismo) foi fundado por John Watson, nos Estados Unidos da América. Para Watson, a Psicologia não devia ter em conta nenhum tipo de preocupações introspectivas, filosóficas ou motivacionais, mas apenas os comportamentos objectivos, concretos e observáveis.
Os psicólogos behavoristas estudavam os eventos ambientais (estímulos), o comportamento observável (respostas) e como a experiência influenciava o comportamento, as aptidões e os traços das pessoas, mais do que a hereditariedade. Os comportamentos constituem assim a resposta de um indivíduo a um determinado estímulo. Watson pretendia tornar a psicologia uma ciência aplicada também aos animais.
A base do behavorismo é de que um estímulo provoca sempre a mesma resposta, pelo que não só seria possível prever os comportamentos, mas igualmente controlar a produção desses comportamentos.
Watson efectuou um conjunto de experiências acerca de comportamentos infantis, com o intuito de alargar o conhecimento no campo da psicologia experimental e comparada. Uma dessas experiências ficou conhecida como o caso do bebé Albert. O objectivo desta experiência era testar a ideia da origem do medo: se era inato ou aprendido como uma resposta condicionada. O “pequeno Albert” era exposto a um coelho branco, um rato branco e um macaco, juntamente com outros objectos. A experiência começou com Albert a brincar livremente com o rato branco. Sempre que ele tocava o animal, Watson fazia um barulho alto ao bater numa barra de aço com um martelo, originando choro e medo na criança. Após várias repetições da experiência, constatou-se que Albert desenvolveu sentimentos de medo, não só em relação ao rato branco, mas também a outros animais, como coelhos e macacos. Watson concluiu então com o estudo que o medo foi aprendido como resposta a um estímulo.
Watson acreditava que podia gerar qualquer comportamento a partir de determinados estímulos, e afirma o seguinte:
“Dêem-me doze crianças sadias, de boa constituição, e a liberdade de poder criá-las à minha maneira. Tenho a certeza de que, se escolher uma delas ao acaso, e puder educá-la, convenientemente, poderei transformá-la em qualquer tipo de especialista que eu queira – médico, advogado, artista, grande comerciante, e até mesmo em mendigo e ladrão – independente de seus talentos, propensões, tendências, aptidões, vocações e da raça de seus ascendentes”.
Os críticos do behavorismo vêem esta corrente como uma concepção limitada do comportamento. Como apenas se valoriza a influência social e se estuda apenas o observável, esta abordagem fica limitada no estudo dos processos cognitivos (tais como a linguagem, por exemplo). O behavorismo não consegue explicar alguns comportamentos característicos dos seres humanos, tais como o pensamento, os sentimentos ou as emoções. Além disso, não consegue explicar necessidades fisiológicas, como por exemplo, ter vontade de comer. A vontade de comer não é resposta a um estímulo observável mas sim uma necessidade intrínseca ao organismo.
Contrariamente à ideia dos behavoristas de que um estímulo provoca sempre a mesma resposta (e assim é possível prever e controlar comportamentos), podem verificar-se respostas diferentes a um mesmo estímulo (quer por pessoas diferentes, quer pela mesma pessoa em momentos diferentes).
Watson pretendia tornar a psicologia uma ciência aplicada aos animais e aos seres humanos. Mas os animais são diferentes dos seres humanos. A linguagem, por exemplo, é uma capacidade inata do homem, que os animais não possuem. É então constatável que as características dos homens não podem ser explicadas baseadas exclusivamente no comportamento observável, mas também segundo a hereditariedade. Isto contraria a afirmação de Watson em que ele diz que podia moldar qualquer criança para ser quem ele quisesse, a partir de um conjunto de estímulos.
Segundo o behavorismo, um estímulo provoca sempre a mesma resposta ou conjunto de comportamentos. Assim, este ponto de vista conduz-nos à ideia que tudo está determinado e que o homem não tem liberdade de escolha.